Sempre que abro um jornal encontro todo tipo de comentário
político. É nessa onda que surfarei, pois sinto que é hora de meu desabafo.
Minha tese sobre o Estado democrático é radical: “Democracia” é uma palavra
inventada para iludir o povo e dá-lhe uma impressão de que estão decidindo
alguma coisa.
Para defender esta “tese” vou à
Atenas, berço da democracia. Ali os cidadãos se reuniam para decidir o futuro
da polis (a cidade grega). O que significava o futuro da polis? O futuro dos
cidadãos. Quem eram os cidadãos? Eram os escravos ou os livres? Não. Eram os
poderosos da polis. Ali estavam eles cuidando de como continuariam poderosos,
os escravos permaneceriam escravos e os livres sem merecimento algum. Os cidadãos
tinham como dignidade o “ócio” e, por isso, não podiam trabalhar. Trabalho era
coisa para escravos e livres que, como tais, eram indignos: o trabalho e o
trabalhador!
Dali até os nossos dias tem
sido assim. Os nossos representantes (conforme a ilusão da democracia) vão à
Brasília (ou mesmo às Câmaras dos Vereadores) cuidar de nossos interesses
(conforme a ilusão da democracia).
Democracia é uma palavra que em
nome dela é possível fazer qualquer coisa até mesmo afirmar que somos livres,
menos para não votar e pagar impostos (daí a César o que é de César!)! Do povo,
pelo povo e para o povo! Onde foi que na História você viu essa realidade? Em
nenhum momento! Os representantes não são do povo (e quando são deixam de ser,
pois se tornam políticos!), nem pelo povo e muito menos para o povo. Até tenho
pensado que a palavra "democracia" é formada por duas palavras
tirânicas: demo = demoníaco, cracia = poder, isto é, poder demoníaco,
dominador. Existe uma possessão no poder político. Tantos entrem quantos são
possuídos. Quanto à fórmula para exorcizar tal espírito do mal, ou a perderam
ou escondem-na muito bem!
Começo a imaginar que não
importa o sistema de governo ou sua forma. Mais vale um ditador que promove o
bem-comum (se é que isto é possível!) do que um democrata corrupto. A diferença
entre um ditador e um democrata é que o primeiro, como não quis ser cínico, não
perguntou ao povo se o aceitava. Ele tomou o poder! Já o democrata perguntou
porque queria ser cínico! Nós ficamos com "dor de cotovelo" diante do
ditador, pois gostamos mesmo é de produzir ditadores e cínicos. O ditador é sem
o nosso consentimento! Desta forma, votamos num democrata (é claro, na ditadura
não votamos!). Daí saímos contando o nosso grande feito: “Tornou-se ditador,
mas fui eu quem o coloquei! E vou tirá-lo para colocar outro ditador”. Só que o
nosso ditador é cínico. Ele finge que os interesses são do povo e que seu poder
emana do povo. Exatamente. Tudo o que ele tem, gasta, manobra, superfatura e
rouba emana do povo e nunca mais voltará para ele. Sejam bem-vindos à ditadura
democrática!
Lamento que o Brasil tenha
herdado uma falsa monarquia (a portuguesa) e uma falsa democracia (imitação do
ensaio americano de democracia), mas viveu uma verdadeira ditadura (na ditadura
não existe falsidade, apenas crueldade!). Entre a falsidade e a crueldade não
existe um mal menor a escolher? Eu considero que não!
Deixando as “teses” de lado
(fruto de desabafo!), um dado histórico nos remete à nossa realidade. Nenhuma
sociedade foi capaz de suportar a corrupção. Impérios e governos caíram sob sua
tirania. O que fazer diante dessa calamidade política?
Pedimos forças a Deus para
pronunciá-la a resposta e muito mais para torná-la o antídoto desse mal que
corroí a nossa nação e faz milhões de brasileiros vitima da tirania da política
do enriquecimento ilícito. Indignação temos. Justiça pedimos: a divina e a
humana! Da nossa cruz oramos: "Senhor, não os perdoem pois sabem o que
fazem". A esses ladrões que olham para a nossa cruz pronunciamos: "Hoje não entrarás comigo no Paraíso (da consciência limpa)!" Pretensão?
Não. Profecia? Sim. Quem for corrupto que atire a primeira pedra!
Antes que a última pedra seja
usada, é necessário declarar minha esperança na democracia do amor. Esse poder
que nos preenche e faz-nos buscar o bem do outro e assumir a sua dor. Para além
da política (e poderia ser a partir dela!) essa democracia acontece de forma
livre e humana. A bondade se espalha e ajuda. A fraternidade reúne e abraça. A
amizade torna o diálogo saúde ao coração. Vejo anônimos tornando-se heróis nas
ruas em sua presa de socorrer o caído, e dá a mão ao desvalido!
A democracia do amor torna o
sorriso um gesto comum a todos e a arte de buscar o bem do outro uma forma de
construir o caráter, de aperfeiçoar os sentimentos e de sentir o coração
mostrando que a vida é bem melhor ao lado de alguém.
Acho que chegou a hora dessa
democracia destituir a fábrica de ilusão e forjar a verdadeira força que emana
do povo: a solidariedade! Quem tem esperança que jogue fora a primeira pedra e
assuma a dinâmica nascida do Reino de Deus que destitui o egoísmo e proclama a
oração do Senhor: “Pai nosso... seja feita a tua vontade”! “Encontraram-se a
graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram” (Salmo 85.10).