PARA LER E RELER

terça-feira, 2 de junho de 2015

STF E TRANSFORMAÇÕES DE VIDAS - MEMÓRIAS

Eu, bolha de sabão

          A minha história pessoal tem um antes e um depois de minha vivência acadêmica com o Seminário Teológico de Fortaleza (STF).
Lembro-me do primeiro dia de aula. O Rev. Frank Arnold, então deão, foi o responsável por nos receber, depois é claro de um trote dado por um professor. O STF sempre foi esse espaço do sorriso e da alegria como é da vocação nordestina de ser.
Eu, quando naquele ano, 1994, tinha meus 21 anos, mas com aparência de 17 anos. O professor Rev. Frank Arnold, com seu jeito iluminado de ser, olhou para mim e brincou: “O que esse menino está fazendo aqui?” Todos sorriram e minha colega Quintina aproveitou para brincar, posteriormente, comigo: “Menino, vai limpar esse sujo de Nescau”. Era um ensaio de bigode que eu tinha!
Naquela mesma aula inaugural o Rev. Frank Arnold comunicou a filosofia do STF numa simples frase: “Cuidem de sua espiritualidade, e nós cuidaremos da letra, do saber”. Para mim essa instrução foi uma ordem que transformei em filosofia de vida: cuidar de minha espiritualidade; e deixar a academia lidar com o saber”.
Ali estava eu. Um tanto inocente da situação, da vida e talvez nem imaginasse o salto que havia dado para nunca mais voltar. Como dei esse salto? Como estava ali sentado na primeira aula contra todas as expectativas?
Como não tinha condições de comprar livro fiz da biblioteca a minha principal aliada. Meu nome: rato de biblioteca! Minhas melhores amizades: as bibliotecárias do STF.
Acredito que fiz parte de um momento e de uma turma que viveu o melhor momento do STF. Tive professores que encantaram e desencantaram as estruturas de nossas vidas. As pedras brutas eram esculpidas para se tornarem pura arte!
O STF era amor ao belo; berço do novo; espaço da criatividade; nascer das capacidades latentes, e das potencialidades do amanhã.
No STF aprendi a pensar por mim mesmo e livre do policiamento do legalismo. Aprendi a olhar o mundo de forma impactadora e a repensar a vida de forma sonhadora.
No STF aprendi a arte de ler a Bíblia com devoção e profundo conhecimento da literatura, linguagem e história bíblica.
No STF aprendi a amar o saber e me tornar um pesquisador do novo. Aqui eu iniciei a careira da construção do saber aprendendo a amá-lo e buscá-lo.
No STF aprendi a necessidade de ter mentor e modelo que me inspirasse para avançar.
No STF aprendi a amar mais a igreja e buscar contribuir com seu progresso e brilho.
Hoje, 18 anos depois de minha formatura, já tenho vivido a experiência de ser e viver a Igreja. O STF me indicou o caminho e eu continuei. O mesmo STF me proporcionou a Licenciatura Plena em Ciências da Religião (em convênio com a Universidade Estadual Vale do Acaraú) e o Mestrado em Teologia. Inspirado no que aprendi, busquei uma formação em História e uma especialização na área. Hoje, tenho Mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Sinto orgulho de saber que o STF não somente mudou minha vida, mas a de muitos jovens que cheios de boa vontade deitaram nesse berço.
Sinto orgulho ao perceber que alguns dos meus professores hoje estão em destaque no universo teológico brasileiro através do ensino em instituições de reconhecimento e publicações acadêmicas.
Sinto orgulho de saber que o seminário que me formou deixou um legado para a igreja protestante no Nordeste e Brasil.
Ao me sentir tão capaz quanto qualquer outro que fez seminário em outro espaço de saber teológico, percebo que em Fortaleza existiu um centro de saber teológico de alto nível e que a excelência era amiga desse espaço.
Sinto orgulho do STF porque ele é coisa nossa: cearense, nordestino e tão suado quanto a testa de cada homem e mulher que busca a virtude do Reino de Deus para nossa realidade.
Uma vida salva é como salvar o mundo. Se essa é uma verdade possível, afirmo que o STF me salvou ao me dá a condição de desejar mais e transformar a vida num gostoso tricotar de palavras, pensamentos e atitudes de liderança.
Quando as luzes se apagam as estrelas brilham mais. O legado o STF é eterno, pois se encontra hoje no jeito de ser da igreja cearense (e nordestina) e na vida de cada líder que hoje pastoreia as igrejas cearenses e brasileira com o gosto e a graça encontrados nessa casa de profetas.
O STF nasceu como um milagre para atender uma geração e um momento. Não vai embora porque caducou. Apenas adormece como fazem os heróis e os vultos. É aqui que ele haverá de se tornar um mito. O nosso mito! Para mostrar ao mundo que é possível tornar desertos em jardim e um matuto em mestre.
Sei que com o STF fiz história: a história do fazer teológico nos braços da Iracema de José de Alencar (nossa Fortaleza). Minha matrícula e permanência nessa instituição teológica, sem ter a nítida noção na época, era minha contribuição para a construção da ciência teológica no universo do saber brasileiro, onde nossa cearencialidade escreve também sua história.
Na historicidade das coisas pouco a pouco algo se torna patrimônio histórico e da memória. Queremos preencher o vazio da ausência contando a história do ontem. É a velhice que resiste e persiste em sonhar com o novo.
Com o STF não desaparece somente a vida acadêmica de uma instituição teológica, mas os laços que ligava a nossa existencialidade a lembranças, momentos e pessoas e que estendia a nossa experiência de viver a sentimentos profundos. Com o fechamento do STF morremos um pouco também. O vazio que fica é o próprio vazio das conexões que transcendiam e que afirmavam que a partir dele as amizades continuavam e as pessoas não envelheciam e nem sumiam.
Haverei de um dia, se Deus quiser, aos 70 anos, quando numa cadeira de balanço, ao fechar os olhos para mentalizar entrando no STF, mundo estranho que se tornaria tão amigo, dizer: “Valeu a pena ter estado aqui. Faria tudo novamente, pois você fez toda diferença!”
À minha turma de 1994 quero apenas afirmar que vocês são simplesmente em minha vida e memória um milagre gostoso de Deus: Perito, Edilauba, Quintina, Vania, Verônica, Éldia, Everaldo e Luci. Lembrem-se: fomos o auge de uma era e seremos o auge de um futuro!
Ao meu professor e mentor Rev. Aureo Rodrigues de Oliveira: não foi em vão seu legado.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

EU, GRÃO DE PÓ A OLHAR AS ESTRELAS

Eu, bolha de sabão

Às vezes considero que a condição mais humana que posso vivenciar é a de fragilidade. Não porque essa ter sido a realidade diante do caos de violência ou de situações onde não encontramos outra alternativa senão sentir-se desprotegido e em total impotência.
Sempre gostei de olhar as noites escuras estreladas para me deixar ser conduzido pela experiência de esmagamento pela grandeza do universo. O grão de nada ousando olhar para o alto a contemplar as estrelas. Essa é a experiência primeira da humanidade, e talvez a última!
Também gosto de estar debaixo da cúpula de algumas catedrais: construídas com o intuito de produzir o esmagamento do “eu” humano para revelar as alturas da realidade divina: a grandeza maior, mais suprime, mais além. O tremendum, de que fala o teólogo Rudolf Otto, no livro O sagrado: “a criatura se humilhar para quem e perante o quê. Perante o que está contido no inefável mistério acima de toda a criatura”. É a subida ao Monte Horebe a trovejar, e fazer Moisés prostrar-se reconhecendo que estava todo trêmulo. Ou na linguagem de filosofo Soren Kierkergaard: é temor e tremor. Aqui nasce a religião e a fé. Nasce também a alma humana, o reconhecimento de que o ser humano é aquele que ousa a olhar as estrelas: chama Deus de pai, e entende como Abraão foi chamado de amigo do Altíssimo.
As grandes revoluções da nossa humanidade ocorreu em estado de fragilidade. Não foi devido ao tremendum que Agostinho de Hipona se tornou cristão? Não foi devido a um raio, nascido de uma tempestade, que Martinho Lutero treme diante do tremendum e se refugia em um mosteiro? Raios do céu geraram mais pessoas de grandeza à história humana do que os relâmpagos da arrogância. Na experiência da falsa grandeza, o eu, no seu encantamento (qual rainha diante do espelho a negar toda beleza fora de si – e com isso se tornar a bruxa da história e não a beleza contida na neve branca) não se deixa transformar. Talvez seja a beleza da borboleta que motiva a lagarta a se encasular. Mas nenhuma lagarta viu a si mesma borboleta. Ela será sempre efêmera ao mundo vivido. Os mundos possíveis das existências se cruzam e coexistem sem se pertencerem. A lagarta que rasteja é a borboleta que voa, o pó que ousa a contemplar as estrelas, é pó de estrela: por isso tem algo o convocando às estrelas. E atendemos a esse chamado através do olhar!
Se olho para o além é porque ele é parte de meu mundo possível: mesmo maior (não sei se melhor!). Considero até que esse mundo maior tem grandeza devido ao meu olhar: a existência tem o tamanho do meu olhar! Se não olho não crio a minha condição e nem a condição do outro. O tamanho do que chamo “imenso” tem as medidas que o meu tamanho mede. Sou então a medida das coisas e da minha própria pessoa. E faço da fragilidade a dimensão maior da existencialidade humana. Quem realmente aprendeu a olhar, amplia os horizontes em cada olhar e a si mesmo diminui nessa construção. Felizes são os cegos que não veem e por isso não ampliam os horizontes? Sansão cego enxergou mais do que quando com perfeita visão. Ele ampliou os horizontes quando o seu corpo se tornou olhos!
Volto a considerar. Aqui se percebe a grandeza do religioso. A religião é a prepotência que em mim habita anulada. Tudo se torna belo e extremamente “divino”. Se alguém se diz religioso e já não olha para as estrelas, mas se considera “estrela”, peca contra os céus e nega a própria essência da fé. Os anjos caídos (demônios) é uma condição de perda do olhar para o alto a contemplar o Altíssimo. Águias olham em direção ao sol, galinhas buscam a terra: nada de ecologia, apenas mediocridade!
A essência é devolvida às coisas quando sou devolvido a minha condição: um sopro e já não sou, e na Palavra sou eterno. Ouso a olhar as estrelas. Eu, grão de pó a olhá-las! E as estrelas a sorrirem para minha ousadia, e permitindo que eu as dê nome, forma e significado. Não posso produzir o brilho delas. Apenas posso ousar a acreditar que um dia o Tremedum disse: “Haja luz, haja estrela... haja pó... façamos o ser humano conforme a nossa imagem e semelhança (Gênesis 1.26). Assim, em todo espelho vejo a grandeza do ser humano, e em cada estrela sua fragilidade.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

DEUS NÃO ESTÁ MORTO!


Quero ver o filme, finalmente, Deus não está morto! Posso até fazer campanha! Mas não temo o contrário a essa afirmação: Deus está morto! Aprendi que a morte de Deus representa a morte do ser humano. Deixo essa questão para algum debate filosófico que não estou disposto a iniciar aqui.
A declaração que Deus está morto não me preocupa. Acho ela não provocativa à fé, mas oportuna. A ressurreição é algo que somente é possível através da morte. Mataram o Senhor Jesus e disseram que ele estava morto. Ele ressuscitou: Jesus, Senhor da vida, da morte e da ressurreição!
Jesus foi declarado morto pelo Império Romano, pelos religiosos judaicos e até mesmos pelos discípulos. A questão não é a morte, mas a superação dela. A declaração "Se Jesus não ressuscitou, vã é a nossa fé", tornou-se o lema do cristianismo primitivo diante da declaração da morte de Cristo. A morte não era o problema e nem o centro da fé. A ressurreição sim!
Hoje, também, declaram a morte de Deus. Na verdade, uma velha declaração, que parece apenas inovadora, mas plenamente caduca. A mesma caduquice de F. Nietzsche!
- Deus está morto para alguns filósofos que acabaram de enterrar sua filosofia que não teve poder para manter uma simples ideologia dando sentido ao mundo (comunismo, etc.) e agora acham que devem viver de enterros.
- Deus está morto para os pseudos cientistas que brincam de professores do saber em nossas universidades e tentam fazer da ciência filosofia do engano.
- Deus está morto para tantos que tem somente como alma o cartão de crédito, o trabalho e o sono para desligar do tédio.
- Deus está morto, pois ele não vive a vida de egoísmo, frieza, violência e dor produzida por uma humanidade morta para tudo que se chama amor.
E depois que a pedra se fecha no túmulo de Deus, os limpos de coração o verão. O túmulo se tornará em templo! A ressurreição é sempre a força de Deus que nos tira da realidade de morte.
Aqueles que enterraram a Deus ficarão apenas esperando que seus túmulos se abram para jamais serem templos: casa habitada!
Finalmente, não me preocupa se alguém acredita ou não em Deus. Estou muito preocupado em saber se Deus acredita em nós! Um viva ao nosso Deus!


Rev. Lucas Guimarães

segunda-feira, 7 de julho de 2014

EU VOU CONTAR TUDO A DEUS



No mês de maio, a agência EFE informou que mais de 150 mil pessoas morreram desde o início da guerra que assola a Síria a cerca de três anos. Em meio a essa situação desoladora, um menino de 3 anos de idade chamou a atenção do mundo todo quando, pouco antes de morrer, ao afirmar que “contaria a Deus” sobre a guerra quando morresse.
- Eu vou contar tudo a Deus – teria afirmado a criança, que não foi identificada.
Segundo o Acontecer Cristiano, o menino estava muito ferido quando proferiu essas palavras, vítima dos confrontos no país, e morreu poucos dias depois.

Esse ocorrido nos faz refletir não apenas na desumanidade das guerras, mas que não estamos contando tudo a Deus em nossas orações.
Pode contar, menino, tudo a Deus. Aproveite para dizer que em nome dele estão matando, mentindo e ferindo. Conte também que em nome da democracia estão prendendo, roubando e enterrando os sonhos dos inocentes.
Meu lamento é que não se possa contar tudo sobre você as crianças do mundo. Para quem sabe elas sejam adultas que contam tudo a Deus!
Se a guerra tira a esperança, a oração permite vencer a morte e buscar a vida: conte tudo para Deus!

Rev. Lucas Guimarães