PARA LER E RELER

quarta-feira, 7 de março de 2012

QUÍMICA DO AMOR: QUE BICHO É ESSE?



Nasci no início da década de setenta e sou ainda do tempo da influência do romantismo renascentista e do amor shakesperiano. O amor como conheci é aquele criado pelo romantismo da Renascença e tendo William Shakespeare e sua obra Romeu e Julieta como fundante. Esse amor unia poesia com sentimento: havia sacralidade e a busca pela não profanação do corpo, da alma e do outro por puro prazer instintivo. Era o início da modernidade – que tirou a poesia do amor quando começou a caducar depois de revoluções e guerras mundiais! Na caduquice da modernidade foi sacrificado o amor shakesperiano. Alguém poderá suspirar com alivio afirmando que, até que enfim, pois era somente uma versão imperfeita do amor em resposta aquela da medievalidade!
Hoje se ouve dizer que abandonou o relacionamento com alguém porque a “química do amor” acabou. Antes, em nome de Shakespeare, dizia-se que o romance acabou! Imagino como fica agora. Em crise de amor, procuro um psicólogo ou um químico?
Li o livro de Lucy Vincent, intitulado Por que nos Apaixonamos. O autor tenta mostrar como a ciência explica os mistérios do amor. O hormônio pode em sua falta ou presença determinar em muito o rumo de um relacionamento. Não descarto o valor da química e de suas interações. Todavia, quero resgatar a nossa persoalidade. Não sou adepto do evolucionismo e, por isso, estranho que o amor seja somente uma reação química que aflora nesses animais que insistem em andar ereto e tomar sorvete com os amigos!
Vejo na TV aqueles “famosos e famosas” afirmando que passou a fase do “ócio” e como são de uma espécie que adotou a infidelidade como padrão deve, na próxima vez, procurar outro parceiro mais apto para a permanência da espécie (quem já leu algo sobre a Evolução das Espécies de Darwin sabe o que estou falando). Lealdade sim, fidelidade não, o moto midiático que quer se impôr como padrão dos relacionamentos. O pior é que nós, que estamos na arquibancada da vida – telespectadores dos absurdos e das manias dos egos inflados ou murchos –, começamos a acreditar que é assim mesmo.
Por favor, você que é químico, ensine-me a fórmula da felicidade! Vamos ao laboratório. Quantas medidas de oxigênio, nitrogênio, hormônios e adrenalina são necessárias para evitar o vazio existencial? Quantas medidas para abolir a solidão produzida pela falta de carinho?
Se a química do amor é plenamente certa, então, os químicos são os senhores da vez. Preparem o divã ou as porções! Mas se Shakespeare estava certo, então, não profanemos o amor, pois somente ele é capaz de devolver a humanidade ao nosso coração. Humanidade que encontramos no sorriso, no carinho e no encontro com a pessoa amada!
É fácil culpar a química. Difícil é assumir erros, avaliar posturas, ter uma conversa sincera, e coragem de começar de novo e fazer o outro feliz.
Enquanto assumimos essa postura, abandonemos a intenção de levar o amor ao laboratório em busca das razões do amor. O amor é como a rosa. A rosa não tem “porquês”. Ela floresce porque floresce. O pedagogo e filosofo Rubem Alves escreve: “Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que ‘amor com amor se paga’. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo”.
Agora, me lembro da cena de Romeu e Julieta em que ele sugere não profanar com um beijo sua amada. E vejo o jovem do Diário de um Sedutor, de Sören Kierkegaard, que depois de conquistar uma jovem (dormir com ela) já não ver mais mistério e se desilude. Vejo num o amor, e noutro a ilusão. Como a felicidade depende do amor que tudo sofre, tudo crê e espera (1 Co. 13.7)! Que digam os felizes no amor, e os infelizes na ilusão!