Às
vezes considero que a condição mais humana que posso vivenciar é a de
fragilidade. Não porque essa ter sido a realidade diante do caos de violência
ou de situações onde não encontramos outra alternativa senão sentir-se
desprotegido e em total impotência.
Sempre
gostei de olhar as noites escuras estreladas para me deixar ser conduzido pela
experiência de esmagamento pela grandeza do universo. O grão de nada ousando
olhar para o alto a contemplar as estrelas. Essa é a experiência primeira da
humanidade, e talvez a última!
Também
gosto de estar debaixo da cúpula de algumas catedrais: construídas com o
intuito de produzir o esmagamento do “eu” humano para revelar as alturas da
realidade divina: a grandeza maior, mais suprime, mais além. O tremendum, de que fala o teólogo Rudolf Otto, no
livro O sagrado: “a criatura se humilhar para quem e
perante o quê. Perante o que está contido no inefável mistério acima de toda a criatura”.
É a subida ao Monte Horebe a trovejar, e fazer Moisés prostrar-se reconhecendo
que estava todo trêmulo. Ou na linguagem de filosofo Soren Kierkergaard: é temor e
tremor. Aqui nasce a religião e a fé. Nasce também a alma humana, o
reconhecimento de que o ser humano é aquele que ousa a olhar as estrelas: chama Deus de
pai, e entende como Abraão foi chamado de amigo do Altíssimo.
As
grandes revoluções da nossa humanidade ocorreu em estado de fragilidade. Não
foi devido ao tremendum que Agostinho
de Hipona se tornou cristão? Não foi devido a um raio, nascido de uma
tempestade, que Martinho Lutero treme diante do tremendum e se refugia em um mosteiro? Raios do céu geraram mais
pessoas de grandeza à história humana do que os relâmpagos da arrogância. Na
experiência da falsa grandeza, o eu, no seu encantamento (qual rainha diante do
espelho a negar toda beleza fora de si – e com isso se tornar a bruxa da
história e não a beleza contida na neve branca) não se deixa transformar.
Talvez seja a beleza da borboleta que motiva a lagarta a se encasular. Mas
nenhuma lagarta viu a si mesma borboleta. Ela será sempre efêmera ao mundo
vivido. Os mundos possíveis das existências se cruzam e coexistem sem se
pertencerem. A lagarta que rasteja é a borboleta que voa, o pó que ousa a
contemplar as estrelas, é pó de estrela: por isso tem algo o convocando às
estrelas. E atendemos a esse chamado através do olhar!
Se
olho para o além é porque ele é parte de meu mundo possível: mesmo maior
(não sei se melhor!). Considero até que esse mundo maior tem grandeza devido ao
meu olhar: a existência tem o tamanho do meu olhar! Se não olho não crio a
minha condição e nem a condição do outro. O tamanho do que chamo “imenso” tem
as medidas que o meu tamanho mede. Sou então a medida das coisas e da minha
própria pessoa. E faço da fragilidade a dimensão maior da existencialidade
humana. Quem realmente aprendeu a olhar, amplia os horizontes em cada olhar e a
si mesmo diminui nessa construção. Felizes são os cegos que não veem e por isso
não ampliam os horizontes? Sansão cego enxergou mais do que quando com perfeita
visão. Ele ampliou os horizontes quando o seu corpo se tornou olhos!
Volto
a considerar. Aqui se percebe a grandeza do religioso. A religião é a prepotência
que em mim habita anulada. Tudo se torna belo e extremamente “divino”. Se
alguém se diz religioso e já não olha para as estrelas, mas se considera “estrela”,
peca contra os céus e nega a própria essência da fé. Os anjos caídos (demônios)
é uma condição de perda do olhar para o alto a contemplar o Altíssimo. Águias
olham em direção ao sol, galinhas buscam a terra: nada de ecologia, apenas
mediocridade!
A essência é devolvida às coisas quando sou devolvido a minha condição: um sopro e já não sou, e na Palavra sou eterno. Ouso a olhar as estrelas. Eu, grão de pó a olhá-las! E as estrelas a sorrirem para minha ousadia, e permitindo que eu as dê nome, forma e significado. Não posso produzir o brilho delas. Apenas posso ousar a acreditar que um dia o Tremedum disse: “Haja luz, haja estrela... haja pó... façamos o ser humano conforme a nossa imagem e semelhança (Gênesis 1.26). Assim, em todo espelho vejo a grandeza do ser humano, e em cada estrela sua fragilidade.
A essência é devolvida às coisas quando sou devolvido a minha condição: um sopro e já não sou, e na Palavra sou eterno. Ouso a olhar as estrelas. Eu, grão de pó a olhá-las! E as estrelas a sorrirem para minha ousadia, e permitindo que eu as dê nome, forma e significado. Não posso produzir o brilho delas. Apenas posso ousar a acreditar que um dia o Tremedum disse: “Haja luz, haja estrela... haja pó... façamos o ser humano conforme a nossa imagem e semelhança (Gênesis 1.26). Assim, em todo espelho vejo a grandeza do ser humano, e em cada estrela sua fragilidade.
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